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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Uma breve história do canibalismo como prática medicinal na Europa

Pisamos em um hospital e sempre nos chama a atenção a higiene, as roupas brancas, o fato de que todo o mundo parece saber o que está fazendo. Mas saiba que nem sempre foi assim: há alguns séculos, e medicina ocidental era um tanto... experimental. Um dos detalhes descobertos recentemente por historiadores da medicina é que pedaços mumificados de cadáveres eram utilizados (e COMIDOS) em tratamentos médicos

O histórico dessas práticas foi descrito em detalhes no livro Medicinal Cannibalism in Early Modern English Literature and Culture, da professora Louise Noble, da University of New England, da Austrália

Segundo esse e outros livros, era comum até membros da realeza europeia devorarem cadáveres. Geralmente em remédios com ossos, gordura, pele e sangue humanos

Os remédios eram para males desde dor de cabeça a epilepsia. Segundo os registros, as práticas do tipo duraram centenas de anos, com auge nos séculos 16 e 17

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Por outro lado, havia poucos opositores de práticas do tipo na época, ainda que a mentalidade europeia da época apontasse o canibalismo na América e Ásia como um símbolo de selvageria e primitivismo

Algumas pessoas chegavam a comer múmias egípcias, principalmente os crânios, alegando que eram bons para "doenças da cabeça"

Em vários países europeus também era comum fazer uma espécie de skincare com gordura de cadáveres

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Como sangue fresco também era considerado um remédio, carrascos no século 16 faziam o papel de curandeiros e tiravam largas porções de sangue de condenados antes da punição final

Não haviam teorias lá muito bem fundamentadas e hoje consideradas científicas para justificar tais práticas

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Segundo o livro, resenhado em uma matéria da Smithsonian Magazine, os médicos consideravam que o cadáver "continha o espírito" da pessoa morta, e comê-lo aliviava dores e doenças. Não era nada diferente dos pensamentos de guerreiros da América, que praticavam canibalismo para "adquirir os poderes de povos vencidos"

“A única coisa [diferença] que sabemos é que quase todas as práticas canibais não ocidentais são profundamente sociais no sentido de que a relação entre quem comia e quem é comido é importante. Nas práticas europeias, isso é irrelevante”, afirma Beth A. Conklin, antropóloga cultural e médica da Universidade de Vanderbilt, a Smithsonian Magazine

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A ideia do canibalismo como medicina começou a decair no século 18, quando regras de higiene foram amplamente aceitas e europeus passaram a utilizar garfos para comer e sabão para banho. Hoje, corpos ainda são utilizados para tratamento, mas a prática nunca envolve comê-los e sim transplantes e transfusões. Fica aí a aula de história!

No século 20, dois médicos operaram a si próprios e entraram para a história da Medicina (e do HORA 7) pelo feito!

Você talvez conheça a história do médico russo Leonid Rogozov, que operou o próprio apêndice para evitar a morte. Já falarei dele também, mas essa história aqui é para reafirmar que Rogozov não é pioneiro: na década de 20, um médico fez o mesmo para testar técnicas medicinais. E, não satisfeito, operou a si mesmo três vezes

Esse médico se chama Evan O’Neill Kane. Naquela época, a medicina ainda era um troço com algum grau de experimentalismo. Em 1919, com 58 anos, ele já ganhara alguma fama ao amputar o próprio dedo para impedir a propagação de uma infecção

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Dois anos depois veio a fama definitiva: em 15 de fevereiro de 1921, ele operou o próprio apêndice, se tornando a primeira pessoa a fazer isso

Por que ele fez isso? O site Steemit explica, citando uma edição do New York Times da época: "Se um cirurgião realmente pode fazer o trabalho por si mesmo, não precisa haver medo por parte do paciente de que outro o faça". Um excelente argumento, vamos admitir

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A ideia de Kane era também testar métodos de anestesia, uma local ao invés de geral. E fazer isso em si próprio foi a forma mais segura que ele encontrou. Ele promoveu a novocaína como anestésico, ao invés de cocaína, o que diminuía o risco para pacientes cardíacos. Em 1932, aos 70 anos, ele repetiu a dose e operou a si próprio de novo, dessa vez uma hérnia inguinal causada por um acidente de equitação. Foi mais um sucesso, apesar da delicadeza do procedimento. Kane entrou para a história como um dos pioneiros e maiores defensores da anestesia local

Após conhecer a história de Kane é hora de falar de Leonid Rogozov, que ficou famoso por motivos similares

Rogozov era russo, um médico importante especialista em medicina familiar

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Em 1960, aos 27 anos, ele embarcou na missão soviética para a Antártica, mais especificamente à base Novolazarevskaya

Durante a missão de um ano, ele começou a sentir tonturas, náuseas, febres e dores. Só havia um problema: ele era o único médico da expedição

Ele fez um autodiagnóstico e constatou que tinha apendicite aguda e não poderia ser transportado para um hospital. A única solução foi operar a si próprio

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Dois integrantes da equipe o ajudaram com instrumentos e segurando espelhos durante o procedimento

Leonid fez algumas pausas, mas conseguiu a retirada do apêndice inflamado em uma hora e 45 minutos

Cinco dias depois, Leonid já não sentia os sintomas da apendicite e não muito depois os pontos foram retirados

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Além disso, os integrantes da equipe, tiraram essas belas fotos que entraram para a história e deram a devida fama a Leonid, reconhecido na antiga União Soviética

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